Entregar uma criança para adoção não requer coragem e nem tanta generosidade, mas uma forte sensação de incompetência, mesmo que irreal, no criar de um ser humano. Pode ser uma grande limitação financeira, psicológica ou até de idade, mas nenhuma Mãe, de fato, abre mão do seu filho, apenas acredita que o está colocando nas mãos de quem pode lhe proporcionar uma vida muito melhor.
E essa sensação de fracasso ao se ver criando um ser humano tem de ser muito maior que a dor de deixar o filho ir para uma nova família, mesmo que seja um lar infinitamente melhor. Porque dói, sim, e passe o tempo que passar a dor permanece.
Esta Mãe jamais esquecerá aquele bebê indefeso que saiu do seu ventre, mas que ela não tinha as mínimas condições, emocionais e financeiras, de educar.
Uma Mãe que ama e tem amor-próprio jamais abriria mão do seu filho. E uma mãe que não ama, jamais o teria. Por isso, deixar um filho ser adotado não é uma rejeição de desafeto, mas um ato de amor de uma pessoa com a autoestima dilacerada. E a atitude mais saudável para quem foi adotado é entender que não foi falta de vontade de tê-lo, foi fraqueza.
Não é simples sentir que a adoção acontece sob uma trama de amor, nem se livrar da sensação de rejeição por menor que seja. E não há culpa em se sentir assim ou ter questionamentos, afinal, a adoção é um movimento que pode deixar dúvidas, principalmente, quando a gente sente que jamais abriria mão de um filho nosso.
Mas cada cabeça uma sentença. Não estamos no lugar de uma Mãe que toma uma decisão dessas, por isso o mais importante é compreender que a criança nunca foi abandonada, apenas teve uma mãe que desejou que sua vida fosse melhor, em todos os termos, do que aquela que ela acreditava que poderia lhe dar, mesmo que isso, no fim das contas, não seja verdade.
Da mesma forma, adotar uma criança é um ato de amor. E só de amor, porque não existe a obrigação, mas sim, uma escolha feita por um desejo enorme de cuidar e criar uma criança.
Pais adotivos amam seus filhos antes mesmo de pegá-los no colo pela primeira vez porque a gestação, que é o período até a adoção efetiva, não é feita no ventre, mas no coração.
É um amor que estava marcado para ser, pois nessa vastidão de tempo e espaço só uma grande conspiração do universo é capaz de causar esse encontro tão lindo entre uma família e seu filho adotivo, por isso repito sem receio que é uma reunião feita sob os desígnios mais elevados de Deus, que permite que uma alma sempre encontre seu caminho até o amor, seja através do ventre ou não.
Portanto, um filho pode não ter os olhos ou o sorriso de sua Mãe adotiva, mas sempre terá o seu coração. Porque, a bem da verdade, adotar um filho é muito mais do que resgatar uma criança de um possível futuro triste e de sofrimento. Adotar é salvar a si mesmo através do amor que Deus plantou no coração por ser lindamente capaz de tomar como seu e amar uma criança gerada por outra pessoa. Por isso, não tenho a mínima dúvida de que pais adotivos, mais do que provedores, são anjos enviados do céu. E vice-versa.
Ter um filho biológico é lindo, mas adotar é fazer nascer em si o amor mais benevolente do mundo.
É entender o sentido da vida, elevar a alma e chegar um pouco mais perto do céu.
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